As crianças e a Internet I
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A Comissão Europeia, através do Eurobarómetro, tornou público em Maio último, o estudo SAFER INTERNET FOR CHILDREN (resumo em PDF e em inglês).
Trata-se de um estudo qualitativo, efectuado a crianças dos 9 aos 14 anos, nos 27 estados da União Europeia envolvendo também a Noruega e a Islândia (universo de 29 países, numa amostra de 938 sujeitos, 30 dos quais portugueses), tendo em Portugal sido conduzido pela TNS Euroteste.
Teve como objectivos de estudo, aferir (1) o uso da Internet e do Telemóvel; (2) o comportamento on-line; e (3) as percepções do risco e da segurança.
Fiz apenas uma leitura de soslaio, mas retenho do mesmo que as crianças europeias demonstram-se demasiado confiantes em relação ao seu conhecimento dos riscos e segurança da Internet.
Apesar de enumerarem todos os riscos e precauções a ter, e considerarem-se bem supervisionadas pelos pais, alguns dos relatos expostos no estudo demonstram a incongruência entre o reportado e o comportamento das crianças:
“Falei na Internet acerca dum trabalho escolar,e passado um tempo, uma pessoa convidou-me para uma private chat room, onde me pediu o meu número. Nessa altura eu não sabia os riscos e dei-lhe, então essa pessoa começou a ligar-me. Acho que devia ter uns 50 anos.”
(rapariga de 9-10 anos, Finlândia)
“Combinei encontrar-me com ele numa estação, e quando vi que era um homem horroroso de 44 anos, vim-me embora”
(rapaz de 12-14 anos, Dinamarca)
O estudo deixa claro, pelos relatos das crianças, que o contacto com estranhos confere um sentido de aventura, num cunho apelativo e fortuito, sendo considerado por muitas como um «jogo» estimulante, inclusivamente quando julgam ter identificado um adulto.
Perante um problema, as crianças mais jovens afirmam socorrer-se de imediato dos pais, enquanto que as mais velhas declaram a recorrência aos amigos e apenas em último recurso os pais (questões de auto-afirmação e desejo de autonomia – tema interessante para outro post).
A comissária Viviane Reding alerta, e bem, que todo o cuidado é pouco no que diz respeito à segurança das crianças, e que urge uma educação pró-activa sobre os mais diversos meios de comunicação. Já em 1999 foi aprovado pelo Parlamento e Conselho Europeus, a adopção de um plano de acção que visa o fomento de uma utilização mais segura da Internet, daí para cá muitas iniciativas surgiram (e.g., uma comunicação), mas ainda há muito caminho a desbravar, não só pela educação preventiva dos pais e educadores, como pelos mais diversos organismos competentes, aos quais não basta legislar (a actuação prática fica muito aquém dos comunicados).
Se com os resultados deste estudo se pretendia melhorar o Programa Internet Segura e promover acções de consciencialização, o mesmo nas suas conclusões não refere quaisquer recomendações de iniciativas (pelo menos no que consultei), talvez devido ao disclaimer estampado em rodapé de 1ª página, que iliba o encomendante:
"This document does not represent the point of view of the European Comission.
The interpretations and opinions contained in it are solely those of the authors"
Gostaria de ver um estudo similar (porventura quantitativo), mas com o mesmo número de sujeitos por país, sendo que a análise comparativa poderia trazer outros resultados, que permitam a elaboração e implementação de um programa adequado à realidade de cada país.
Em jeito de pró-actividade aconselho:
Como ser Cyber-esperto (Ministério da Educação).