Em teu nome, Ricardo
Postado por
Maria Sá Carneiro
em quarta-feira, 5 de março de 2008
...
Toda a minha vida te procurei, sempre corri ao teu encontro, desde criança….
A vida dá voltas e reviravoltas, tantos anos para chegarmos a uma relação equilibrada.
Nunca fui o que esperavas, provavelmente, nem sabes o que esperavas de mim.
Tanta gente que não aproveita a vida, não vibra, não ama, não luta, não deseja, não grita, não ri, não chora, não berra, bolas…….Porquê tu ainda tão novo, tão cheio de ânsia de viver, de amar, de ver, de ser feliz?
Se soubesses como fiquei zangada, por me obrigares a tomar decisões, sempre a pensar no que seria melhor para ti. Bolas, eras tão forte, tão invencível, como é que podia imaginar que eras capaz de morrer... Já não chegava, o Tio Chico, ter partido... Porquê?
Tive que cumprir as tuas instruções, até depois de teres morrido, eu continuei a cumprir ordens. Pediste-me o impossível, não chorar no teu enterro... Carreguei te aos ombros, levei te ao inferno do fogo, vi te entrar naquele forno, sem deitar uma lágrima. Assim tu mandaste. Porque foste sempre tão grande, tão forte, tão invencível?
Como foste capaz de me deixar aqui... sem ti!? Não achas que já bastavam todas as mortes... todas as zangas. Era a altura de eu te poder apreciar... Poder estar perto de ti, ver-te ficar mais Humano, disponível. Nunca tiveste tempo, agora tinhas tudo. Sonhei todos os dias da minha vida, puder estar contigo, com tempo, conversarmos, conheceres me melhor. Tantos anos estivemos longe.
Às vezes eras tão duro, tão distante, mas o teu olhar, sempre me encheu a alma, a tua força, as tuas certezas, as tuas atitudes radicais... Estou a ver te de jeans, de socas, de camisola interior do Ameal, a quem pomposamente chamavas de T'shirt... E de toga!
Não consigo deixar te partir. As pessoas olham para mim como se fosse tola, quando eu falo de ti... Acham que já passaram muitos anos, a mim parece-me uma mentira GROSSEIRA!
Éramos tão amigos, como eu te amava, como eu ainda te amo. Dava tudo para te puder dar um abraço. Ouvir-te chamar “meu amor”, “Cotas”. Sonho, tantas vezes, que me vens cobrir, que me vens dar um beijo. Deixaste-me muita coisa boa... muita. Algumas certezas importantes... que sou inteligente, que sou boa mãe, que fui uma boa filha...
Bem sabes, que se pudesses tinha trocado contigo, deste-me a certeza que acreditavas nisso, porque eu tinha ido no teu lugar....
Sete anos passaram... Continuo sem querer acreditar, que partiste, como passaste a chamar à morte, desde que ela te começou a chamar. Onze meses passamos, na esperança de vencer a doença, eras tão bonito por dentro, tinhas tanto cuidado com os outros. Eras tão humilde, querias fazer tudo sozinho, não querias incomodar, dar trabalho.
Fiz tudo o que sabia para te ajudar a vencer os efeitos devastadores dos tratamentos, que sempre enfrentas-te com tanta coragem, os enjoos, a perda de cabelo, a Dor!...
Queríamos tanto vencê-la!... Essa doença má, tão má, que te fez sofrer tanto... Foi-te consumindo, brincando contigo, até te pôs melhor uns dias antes, de te obrigar a ir para o hospital, querias tanto adormeçer na Pesqueira. Merecias tanto adormecer naquele lugar lindo como tu. Sei que te desiludi, mas eu tinha que te levar ao hospital. Não podia deixar-te na Pesqueira, ias sofrer muito. Desculpa, mas teve que ser.
Sabes Riqui, eu não podia fazer mais, não sabia, tentei pensar por ti, tentei fazer o melhor, mas não fui capaz de vencer e de te ajudar a vencer essa maldita doença, estou aqui a escrever, as lágrimas malditas não param de correr pela minha cara abaixo. Sabes é a dor de não te ter perto de mim, é revolta de coisas que te fiz passar, é revolta de ver a minha vida passar, a minha incapacidade de ser feliz.
Sabes, claro que sabes, sempre soubeste tudo, que entrei para a Católica, vinte e cinco anos depois. E sabes que até aí continuo presa a ti.... Tenho medo de começar o curso, uma mistura complicada, entre realizar um sonho, e medo de ao realiza-lo, me aconteça alguma coisa. Medos de viver, ou melhor, sempre foram sinceros um com o outro, medo de morrer.
Já não tenho nada a provar a ninguém, mas sabes que perder nem a feijões... Mas a má noticia é que me sinto a definar, aos poucos, estou A DEIXAR-ME ABATER. Sabes acho que no fundo, tenho medo de realizar o meu sonho.
Apenas queria dizer-te que te amo, que sempre te amei, e que te vou amar sempre, não, não penses que me estou a despedir de ti, estou a desabafar contigo, e a tentar convencer-me que vou ultrapassar tudo isto.
Vou tentar prestar-te a verdadeira, e a única, homenagem que te posso prestar, a que te devo em honra do nosso amor, vou tentar ser feliz, como te prometi, vou tentar tirar esse curso, por mim, Ricardo, mas vou levar-te sempre no meu coração.
Beijo grande, Pai...
Como me disseste, até sempre, meu grande amigo!!!
A vida dá voltas e reviravoltas, tantos anos para chegarmos a uma relação equilibrada.
Nunca fui o que esperavas, provavelmente, nem sabes o que esperavas de mim.
Tanta gente que não aproveita a vida, não vibra, não ama, não luta, não deseja, não grita, não ri, não chora, não berra, bolas…….Porquê tu ainda tão novo, tão cheio de ânsia de viver, de amar, de ver, de ser feliz?
Se soubesses como fiquei zangada, por me obrigares a tomar decisões, sempre a pensar no que seria melhor para ti. Bolas, eras tão forte, tão invencível, como é que podia imaginar que eras capaz de morrer... Já não chegava, o Tio Chico, ter partido... Porquê?
Tive que cumprir as tuas instruções, até depois de teres morrido, eu continuei a cumprir ordens. Pediste-me o impossível, não chorar no teu enterro... Carreguei te aos ombros, levei te ao inferno do fogo, vi te entrar naquele forno, sem deitar uma lágrima. Assim tu mandaste. Porque foste sempre tão grande, tão forte, tão invencível?
Como foste capaz de me deixar aqui... sem ti!? Não achas que já bastavam todas as mortes... todas as zangas. Era a altura de eu te poder apreciar... Poder estar perto de ti, ver-te ficar mais Humano, disponível. Nunca tiveste tempo, agora tinhas tudo. Sonhei todos os dias da minha vida, puder estar contigo, com tempo, conversarmos, conheceres me melhor. Tantos anos estivemos longe.
Às vezes eras tão duro, tão distante, mas o teu olhar, sempre me encheu a alma, a tua força, as tuas certezas, as tuas atitudes radicais... Estou a ver te de jeans, de socas, de camisola interior do Ameal, a quem pomposamente chamavas de T'shirt... E de toga!
Não consigo deixar te partir. As pessoas olham para mim como se fosse tola, quando eu falo de ti... Acham que já passaram muitos anos, a mim parece-me uma mentira GROSSEIRA!
Éramos tão amigos, como eu te amava, como eu ainda te amo. Dava tudo para te puder dar um abraço. Ouvir-te chamar “meu amor”, “Cotas”. Sonho, tantas vezes, que me vens cobrir, que me vens dar um beijo. Deixaste-me muita coisa boa... muita. Algumas certezas importantes... que sou inteligente, que sou boa mãe, que fui uma boa filha...
Bem sabes, que se pudesses tinha trocado contigo, deste-me a certeza que acreditavas nisso, porque eu tinha ido no teu lugar....
Sete anos passaram... Continuo sem querer acreditar, que partiste, como passaste a chamar à morte, desde que ela te começou a chamar. Onze meses passamos, na esperança de vencer a doença, eras tão bonito por dentro, tinhas tanto cuidado com os outros. Eras tão humilde, querias fazer tudo sozinho, não querias incomodar, dar trabalho.
Fiz tudo o que sabia para te ajudar a vencer os efeitos devastadores dos tratamentos, que sempre enfrentas-te com tanta coragem, os enjoos, a perda de cabelo, a Dor!...
Queríamos tanto vencê-la!... Essa doença má, tão má, que te fez sofrer tanto... Foi-te consumindo, brincando contigo, até te pôs melhor uns dias antes, de te obrigar a ir para o hospital, querias tanto adormeçer na Pesqueira. Merecias tanto adormecer naquele lugar lindo como tu. Sei que te desiludi, mas eu tinha que te levar ao hospital. Não podia deixar-te na Pesqueira, ias sofrer muito. Desculpa, mas teve que ser.
Sabes Riqui, eu não podia fazer mais, não sabia, tentei pensar por ti, tentei fazer o melhor, mas não fui capaz de vencer e de te ajudar a vencer essa maldita doença, estou aqui a escrever, as lágrimas malditas não param de correr pela minha cara abaixo. Sabes é a dor de não te ter perto de mim, é revolta de coisas que te fiz passar, é revolta de ver a minha vida passar, a minha incapacidade de ser feliz.
Sabes, claro que sabes, sempre soubeste tudo, que entrei para a Católica, vinte e cinco anos depois. E sabes que até aí continuo presa a ti.... Tenho medo de começar o curso, uma mistura complicada, entre realizar um sonho, e medo de ao realiza-lo, me aconteça alguma coisa. Medos de viver, ou melhor, sempre foram sinceros um com o outro, medo de morrer.
Já não tenho nada a provar a ninguém, mas sabes que perder nem a feijões... Mas a má noticia é que me sinto a definar, aos poucos, estou A DEIXAR-ME ABATER. Sabes acho que no fundo, tenho medo de realizar o meu sonho.
Apenas queria dizer-te que te amo, que sempre te amei, e que te vou amar sempre, não, não penses que me estou a despedir de ti, estou a desabafar contigo, e a tentar convencer-me que vou ultrapassar tudo isto.
Vou tentar prestar-te a verdadeira, e a única, homenagem que te posso prestar, a que te devo em honra do nosso amor, vou tentar ser feliz, como te prometi, vou tentar tirar esse curso, por mim, Ricardo, mas vou levar-te sempre no meu coração.
Beijo grande, Pai...
Como me disseste, até sempre, meu grande amigo!!!
Maria Sá Carneiro
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