O lifting do estado de humor
Postado por
Curiosa Qb
em domingo, 30 de março de 2008
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Imagens retiradas AQUI e ACOLÁ
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Enquanto a Confederação Nacional de Reformados, Pensionistas e Idosos (MURPI) trás a Lisboa perto de 3000 idosos em manifestação, que nas reivindicações mencionam a «actualização das pensões, o alargamento do complemento solidário do idoso, e a abolição das taxas moderadoras», no arranque do “Governo Presente” no distrito de Viseu, José Sócrates exalta «o mais ambicioso plano de combate à pobreza na terceira idade».
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Apesar deste desencontro, o Primeiro-ministro não escapou a outras demonstrações de descontentamento. Em Anadia, que nem Viriato, seis cidadãos repostam «Sócrates arrogante, não sejas ignorante, queremos as nossas urgências». Segue-se Vouzela e os protestos ecoam nos que exigem a reabertura do Serviço de Atendimento Permanente (SAP).
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Se noutras ocasiões José Sócrates relativiza os manifestantes, atribuindo por vezes os apupos recebidos desde que iniciou funções de premiê (em português do Brasil) a acções concertadas de outros partidos, desta feita a defesa aos assobios consiste em apregoar a sua "face humana" perante os dramas de muitos portugueses, cumprindo o dever de «disfarçar os seus estados de alma».
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Depois de ser apreciado como o pior Primeiro-ministro da era democrática, se a «estratégia tem a ver com ganhar» nada melhor que um lifting no seu distintivo estado de humor, substituindo-se a irascibilidade pela comoção solidária com os portugueses. Este volte face não é mais que caiar uma imagem pública, que prima pela displicência perante o fosso social que se intensifica em Portugal, e não será apenas com estradas que se salvam vidas.
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Como é habitual, as campanhas eleitorais começam bem antes do tiro da partida - está-se a 18 meses das próximas legislativas e já começam os ensaios de todos os partidos. Se bem que os políticos tendem a falhar nas contas (o duelo passa também pelo peso fiscal), depressa se ouvirá o disco riscado do aumento de ordenados e pensões e o blablabla dos benefícios alcançados, contraposto pelo rebeubeubeu dos adversários com que alternam a governação.
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Esta do “estados de alma” lembra-me Odes do Álvaro de Campos, que num dos seus textos poéticos declama “Tenho vontade de vomitar…”, mas aproveitando a boleia do lifting, também eu dou a minha achega para as próximas legislativas a quem de memória curta - como ainda não me cruzei com políticos, sejam de que partido for, que mereçam a minha complacência, não creio em vãs promessas –, utilizando um dos slogans da Éguinha Pocotó:
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VOCÊ FAZ SUAS ESCOLHAS, E SUAS ESCOLHAS FAZEM VOCÊ.
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Pós-texto: post emendado às 00:24 de 31/03/2008
Pós-texto 2 (02:04 de 31/03/2008): José Sócrates finaliza dominicalmente o "Governo Presente" de Viseu, acompanhando a comoção com expiação - «Sei bem o que custa aos 50 anos, ou aos 55 como o João Carlos, reconhecer socialmente e publicamente, que preciso de estudar mais, que preciso de saber mais, e até reconhecer que se calhar cometi um erro há uns anos atrás na minha vida, e que devia ter prosseguido os estudos, eu sei bem que é preciso coragem para isso» - ao entregar computadores a deficientes integrados no programa Novas Oportunidades, tornando-se este o fim-de-semana das revelações "introspectivas".
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