À minha Mãe...

Mãe... é um nome que estamos tão habituados a pronunciar, um dos primeiros que começamos a ouvir e talvez um dos primeiros que começamos a conseguir palrear.É engraçado que no inicio da nossa vida a nossa Mãe é o nosso mundo e, devagarinho vamo-nos tornando independentes e vamos explorando o que temos em redor conquistando cada dia mais um pedaço da nossa independêndia e alargando os nossos horizontes para além do nosso amor e da nossa relação com a nossa Mãe deixando gradualmente de pronunciar o nome Mãe tantas vezes... mais tarde, quando a nossa Mãe envelhece e necessita dos nossos cuidados voltamos a criar uma relação de maior dependência, satisfazendo as suas necessidades e cuidado dela com o maior amor e carinho e voltando a pronunciar o seu nome mais e mais vezes numa tentativa e na ânsia de lhe pedir que não parta... que fique connosco...

A minha Mãe tinha 18 anos quando decidiu que queria engravidar e estava profundamente apaixonada pela meu Pai. Na altura, tinha saido de casa para ir viver com o meu Pai, um homem 17 anos mais velho que ela. Um homem separado e com 3 filhos.Será imaturidade?O que é que isso interessa? Quem pode julgar isso?A minha Mãe seguiu o coração dela, teve coragem para ir contra tudo e contra todos para ir viver o sonho que era o dela e para ser feliz, pelo menos durante aquele tempo...Eu orgulho-me de ser fruto de um amor lindo e de ser uma filha muito amada e desejada :) de ser uma filha programada após a caixa de pílulas ter sido atirada pela janela!De ter tido uma Mãe que comeu peixe e fruta quando estava grávida, que andou a pé, que cantou e conversou comigo...

Ao longo da minha infância tive uma Mãe serena, meiga e atenciosa... uma Mãe que sempre me explicou as coisas com calma e me deu atenção e, acima de tudo muito amor e carinho...Sempre preocupada comigo e com a minha educação, a minha Mãe soube orientar o meu crescimento pessoal e a minha formação interior, nomeadamente no que diz respeito aos meus valores.

A separação dos meus pais foi um processo complicado, como é para qualquer criança, mas as crianças facilmente se adaptam às situações e superam as dificuldades.Na altura não compreendi os motivos da minha Mãe.Hoje compreendo, aceito e respeito.Não posso deixar de referir a força que a minha Mãe teve neste processo todo, saiu de casa comigo e com a minha irma que so tinha 2 anos. Não tinhamos dinheiro, fomos viver para um apartamento alugado, a minha Mãe fartava-se de trabalhar e foram tempos muito complicados... Mas, tambem foram tempos que serviram para nos unirmos muitos, para criarmos a cumplicidade que hoje temos as três!Ainda me lembro de acordarmos mais cedo, fazermos e embrulharmos sandes que deixavamos na bomba de gasolina que vendiamos para la... e depois iamos para a escola....Estas dificuldades juntaram-nos, fizeram-nos crescer e fizeram de nos as três a familia que somos hoje..

Ver a minha Mãe depois da separação foi um choque...Vê-la transformar-se numa pessoa extrovertida, bem disposta, alegre... que passou a vestir-se de uma forma completamente diferente e que passou a ouvir musica alto, a cantar e a dançar.... foi assustador ao inicio....Mas, com o tempo tornou-se tão bom :)Ver a minha Mãe transparecer a pessoa jovem que tinha dentro dela... alegre e bem disposta, sem protocolos e regras sociais, livre...Foi nesta altura que aprendi o que era a liberdade... até aqui não tinha tido nenhum contacto com a liberdade! até aos meus 10 anos!A minha adolescência foi atribulada... principalmente a partir dos 16 anos. sou uma pessoa timida, mas mais do que isso, sou reservada e guardo tudo para mim.... a minha Mãe também é um bocado assim.... acabavamos por entrar em choque....A minha Mae parrava muito tempo fora a trabalhar e eu não gostava disso, mas não lhe dizia directamente... conclusão, estavamos sempre as turras!Só fiz verdadeiramente as pazes com a minha Mãe à cerca de uns meses...Só nesta altuta a aceitei verdadeiramente como ela é... Aos 23 anos.... Sim, é muito tarde... Talvez tenho sido sempre muito mimada... Talvez seja muito imatura....

A verdade é que neste momento olho para a Minha Mãe e vejo uma pessoa maravilhosa, vejo uma pessoa com muitas qualidades do meu Avô, nomeadamente a honestidade, frontalidade, hombridade, humildade, força interior, altruísmo, bondade... Vejo outras qualidade como a capacidade de amar os outros....Eu sei que sou suspeita, mas eu não vejo outras pessoas assim como a minha Mãe... Não vejo mesmo.... Acredito que não há...Claro que se a minha Mãe melhorasse a teimosia era bom! lol!Se a minha Mãe trabalhasse menos e se dedicasse mais a ela.... se a minha Mãe voltasse a ler o que escreveu o blog dela em "Cobardia de viver" eu ficava muito feliz....

Mas, a verdade é que hoje, Dia da Mãe... eu estou aqui em Lisboa, fiz noite e faço logo noite....não tenho hipotese de ir ao Porto.Adorava poder estar com a minha Mãe....Ficam aqui estas palavras para ti, Mãe :)

Quero que saibas que te estou eternamente grata por seres a Mãe que és... por tudo o que sempre me ensinaste e por me teres ensinado a ser quem sou....Se hoje sou uma pessoa adulta, com um curso superior e com um trabalho é a ti que devo isso... Se sou uma pessoa boa, com valores é a ti que devo.... Sempre me ensinaste qual o bom caminho...Sempre me ensinaste qual o caminho da verdade e o caminho da mentira... Ainda hoje me chamas atenção para isso :)Obrigado por fazeres viva a memória do Avô de uma forma tão bonita... Ele onde estiver está orgulhoso de ti!Desculpa não estar aí....

O meu coração está ai contigo... Sempre e hoje de uma forma muito especial e cheio de amor e carinho...

Amo-te...

Pepa

Isabel Pulido