Episódio III – Escola: inicio atribulado
Postado por
Anónimo
em quinta-feira, 5 de junho de 2008
...
(... Continuação)
Durante aqueles dias, entre a chegada, em Agosto, e o primeiro dia de escola, em Setembro, andei meia perdida com tanta euforia... Era tudo novo para mim... e na ânsia de conhecer o meu novo mundo fazia tudo o que não devia fazer, desconhecendo os perigos que tal insensatez me pudesse trazer... mas enfim... inconsequente, avançava os muros da casa, nas traseiras e “partia” à descoberta de novos “territórios”... queria ver o que se encontrava por detrás desses mesmos muros...
Uma vez, fui dar ao centro de um musseque, o Cazenga, que distava da nossa casa cerca de 500m, mesmo no extremo da rua onde morávamos. Perdi-me... tentei regressar pelo mesmo caminho, mas não consegui!... Andava às voltas e vinha dar sempre ao mesmo sítio. Deixei-me ficar ali... a minha mãe havia de dar pela minha falta.
Estranhando ver uma menina branca perto do musseque, uma senhora, preta, acercou-se de mim e perguntou-me de onde eu era. Mas se eu nem sabia!!
Apenas sabia que morava no Bairro Adriano Moreira, e porque tinha ouvido falar aos meus pais.
Ela pegou-me pela mão e levou-me de volta. Felizmente entrou na minha rua... a minha mãe andava a bater de casa em casa, perguntando se me tinham visto ... Mal a vi corri para ela e abracei-a! Ao ver-me acompanhada pela senhora preta, olhou para mim, questionando-me com o olhar quem era...
“É a senhora que me salvou!” - disse eu.
“Está bem.” - disse a minha mãe, voltando-se para a tal senhora para lhe agradecer - “Vamos para casa e lá conversamos”.
Eu toda contente por ter reencontrado a minha mãe, depois de tamanho susto, mal sabia que a conversa seria uma valente surra... seguida de uma conversa sobre os perigos que tinha corrido.
“Mas a senhora até me trouxe para casa... ela não me ia fazer mal nenhum, Mãe!”
“Ouve o que te digo e obedece. É a última vez que fazes isto.”
Meti-me no meu quarto, com as lágrimas a correrem pela cara abaixo... Ainda com as nádegas a fumegarem do castigo físico, revi tudo o que se tinha passado...
Uma vez, fui dar ao centro de um musseque, o Cazenga, que distava da nossa casa cerca de 500m, mesmo no extremo da rua onde morávamos. Perdi-me... tentei regressar pelo mesmo caminho, mas não consegui!... Andava às voltas e vinha dar sempre ao mesmo sítio. Deixei-me ficar ali... a minha mãe havia de dar pela minha falta.
Estranhando ver uma menina branca perto do musseque, uma senhora, preta, acercou-se de mim e perguntou-me de onde eu era. Mas se eu nem sabia!!
Apenas sabia que morava no Bairro Adriano Moreira, e porque tinha ouvido falar aos meus pais.
Ela pegou-me pela mão e levou-me de volta. Felizmente entrou na minha rua... a minha mãe andava a bater de casa em casa, perguntando se me tinham visto ... Mal a vi corri para ela e abracei-a! Ao ver-me acompanhada pela senhora preta, olhou para mim, questionando-me com o olhar quem era...
“É a senhora que me salvou!” - disse eu.
“Está bem.” - disse a minha mãe, voltando-se para a tal senhora para lhe agradecer - “Vamos para casa e lá conversamos”.
Eu toda contente por ter reencontrado a minha mãe, depois de tamanho susto, mal sabia que a conversa seria uma valente surra... seguida de uma conversa sobre os perigos que tinha corrido.
“Mas a senhora até me trouxe para casa... ela não me ia fazer mal nenhum, Mãe!”
“Ouve o que te digo e obedece. É a última vez que fazes isto.”
Meti-me no meu quarto, com as lágrimas a correrem pela cara abaixo... Ainda com as nádegas a fumegarem do castigo físico, revi tudo o que se tinha passado...
O meu medo... que proeza... nunca mais faria aquilo, mesmo que a minha mãe não me tivesse castigado.
Até ao inicio das aulas não me atrevi a avançar para além daqueles muros... nem saía do portão para a rua. O meu território era aquele quintal... entretinha-me a subir pelo tronco acima do mamoeiro, com cerca de 4 a 5 metros de altura!!
Divertia-me... com a minha mãe sempre a gritar comigo prevenindo-me de que podia cair.
Tinha arranjado uma técnica para me segurar ao tronco: subia com o meu corpo agarrado ao tronco do mamoeiro e aproveitava os elos das folhas que caiam para ir subindo com a ponta dos pés...
Mas... ironia do destino... uma dia, um dos pés falhou... escorreguei pelo tronco do mamoeiro abaixo... esfolei a barriga toda...
Mais uma zanga! E muitas dores de seguida...
Enfim, episódios de criança irrequieta e para quem, sentindo-se só, tudo valia como aventura!
Dia 20 de Setembro... o primeiro dia de aulas!!! O meu Pai foi-me levar ao Colégio da Cuca. Entregou-me à sra. D. Maria Augusta, a professora que a partir daquele dia se ia encarregar de me dar instrução.
Entrei para a sala de aulas e a professora destinou-me um lugar. Sentei-me, mas ficar quieta não era comigo... passava a vida a virar-me para trás ou para o lado, para falar com os colegas.
A D. Maria Augusta advertia-me para ficar calada... mas qual quê... ficar calada como?! Impossível !
Após muitos avisos, a professora chamou-me perto da secretária e pediu-me para estender a mão. Confiante, estendi a mão direita. Repentinamente, a professora pegou na régua e abateu-a sobre a minha mão, desferindo 4 reguadas... à quinta desviei a mão e a régua bateu-me numa falange do dedo polegar da mão... Ainda hoje conservo a sequela do acontecido e sempre que dobro o dedo essa lembrança volta...
Quando cheguei a casa, a minha mãe, vendo-me pesarosa, perguntou-me o que tinha acontecido... contada a minha versão sumária, obtive como resposta: ”Bem feito!, Para a próxima comporta-te bem!!”
Dia 20 de Setembro... o primeiro dia de aulas!!! O meu Pai foi-me levar ao Colégio da Cuca. Entregou-me à sra. D. Maria Augusta, a professora que a partir daquele dia se ia encarregar de me dar instrução.
Entrei para a sala de aulas e a professora destinou-me um lugar. Sentei-me, mas ficar quieta não era comigo... passava a vida a virar-me para trás ou para o lado, para falar com os colegas.
A D. Maria Augusta advertia-me para ficar calada... mas qual quê... ficar calada como?! Impossível !
Após muitos avisos, a professora chamou-me perto da secretária e pediu-me para estender a mão. Confiante, estendi a mão direita. Repentinamente, a professora pegou na régua e abateu-a sobre a minha mão, desferindo 4 reguadas... à quinta desviei a mão e a régua bateu-me numa falange do dedo polegar da mão... Ainda hoje conservo a sequela do acontecido e sempre que dobro o dedo essa lembrança volta...
Quando cheguei a casa, a minha mãe, vendo-me pesarosa, perguntou-me o que tinha acontecido... contada a minha versão sumária, obtive como resposta: ”Bem feito!, Para a próxima comporta-te bem!!”
No dia seguinte, quando o meu pai me voltou a deixar ao portão da escola, nem o deixei afastar-se!... Desatei a correr atrás do carro, a gritar que não queria ficar ali.
Surpreso, sem saber o que tinha sucedido na véspera, e vendo o meu desespero, meteu-me dentro da escola e falou com a professora. Após os devidos esclarecimentos, lá me conseguiu convencer a ficar.
Pensei em fugir... mas para onde?! Relembrei o que tinha acontecido antes das aulas terem começado.
Rendida e desamparada lá fiquei... tinha de ser... não havia nada a fazer...
Frequentei a primeira classe nesse Colégio. Mas nunca me consegui integrar!
Na segunda classe, após pedido de transferência, fui para outro local: Colégio Dr. Adriano Moreira.
Frequentei a primeira classe nesse Colégio. Mas nunca me consegui integrar!
Na segunda classe, após pedido de transferência, fui para outro local: Colégio Dr. Adriano Moreira.
A professora, D. Maria José, algarvia, muito exigente, era, simultaneamente, muito mais carinhosa.
Mas no inicio, também aí, a minha adaptação foi algo penosa!
Mas no inicio, também aí, a minha adaptação foi algo penosa!
Lembro-me de a professora ter solicitado a presença da minha mãe. Apresentando-se no colégio, a professora chamou-me à presença e ambas e comunicou-lhe, na minha frente, que havia semanas que eu não fazia os trabalhos de casa.
A minha mãe, indignada, respondeu-lhe, sempre a olhar para mim: “Sra. Professora, sempre que isso acontecer, castigue-a... Eu passo o tempo todo depois de ela ir para casa, após a escola, a perguntar-lhe se fez os deveres de casa. Ela diz sempre que sim! Tenho confiado, porque ela está sempre com os cadernos à frente... de facto não verifico... mas peço-lhe que se isso voltar a acontecer... arreie-lhe!...”
Bem... não será preciso acrescentar mais nada! Este discurso foi suficiente para que começásse a ter juízo... não poderia repetir as cenas do ano anterior.
Passei a ser uma aluna exemplar... aquele instrumento penalizador nunca mais me tocou!
Relembro com muita saudade aqueles anos naquele colégio, onde fiz duas amiguinhas: a Mercês (portuguesa) e a Judite (angolana, pretinha de gema).
Relembro com muita saudade aqueles anos naquele colégio, onde fiz duas amiguinhas: a Mercês (portuguesa) e a Judite (angolana, pretinha de gema).
(A continuar...)
blog comments powered by Disqus