Da investigação judiciária ao affair político: "Caso Maddie" não está arquivado
Postado por
Curiosa Qb
em terça-feira, 22 de julho de 2008
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O "Caso Maddie" não está arquivado porque ainda fará correr muita tinta e gastar muitas teclas, até e depois de ser levantado o segredo de justiça, que se prevê daqui a 20 dias. Foi arquivado sim pela PGR, o inquérito que concerne ao desaparecimento de Madeleine McCann «por não se terem obtido provas da prática de qualquer crime por parte dos arguidos»* tendo por base o relatório final da PJ [link do documento com 57 páginas, disponibilizado no Expresso Online].
Sobre o motivo que leva a este arquivamento ainda não li nem ouvi nada que foque a estapafúrdia contradição do despacho – corrijo, acabei de ouvir na SIC Notícias, às 07:03 enquanto escrevia este post, algo sobre declarações semelhantes de Alípio Ribeiro ao Diário Económico -, isto porque assenta em três pessoas que «eram suspeitos porque eram arguidos, ou arguidos porque eram suspeitos» [cit. Paulo Sargento em “Maddie: caso arquivado”, na SIC Notícias 21/07/2008], sob as quais não se conseguiu provar culpabilidade, e não no desaparecimento propriamente dito da menina, que infelizmente não retornará. Assim sendo, enquanto leiga, considero que o despacho apenas se devia cingir aos constituídos arguidos e às medidas de coacção que lhes foram aplicadas, tanto que o prazo de investigação do desaparecimento ainda não prescreveu (veja-se como exemplo Jorge Sepúlveda desaparecido há quase 17 anos) como bem sabe, ou deveria saber, Pinto Monteiro.
Esta é mais uma gaffe a ser aproveitada pelos McCann, tão bem auxiliados por Clarence Mitchell (assessor de comunicação cedido aos McCann pelo Primeiro-ministro inglês), que ajuda à ridicularização do funcionamento policial e da justiça em Portugal, alegando que se desistiu de procurar Madeleine, enquanto se preparam para nos processar com a ajuda de Rogério Alves, acção que Robert Murat de certo também não descuidará. E digo “nos processar” porque as indemnizações vão ser pagas por todos os portugueses que engrossam os cofres do Estado, e não pelos altos intervenientes nacionais responsáveis pelos excêntricos contornos deste caso.
As alegadas pressões e interferências do governo português e subsequentemente da direcção da PJ na investigação, mesmo que não comprováveis, moralmente são consideradas como obstrução à investigação e à justiça, havendo a crença que se assim não fosse a PJ teria sido mais célere e cometido menos erros, ou não fosse esta a investigação mais dispendiosa que se conhece na justiça portuguesa. Denote-se aqui a subserviência a “terras de sua Majestade” para manter a simpatia de Gordon Brown que, tal qual José Sócrates, já não agrada à maioria dos eleitores.
Miguel Sousa Tavares escreveu no Expresso que «[...] Mais de um ano depois, vai-se levantar a infame suspeição sobre um casal que teve o azar de perder a filha em Portugal e sobre um inglês que teve o azar de ser vizinho do aldeamento e ter levantado suspeitas a uma jornalista […]». Concordo no que respeita a Murat mas não sobre os McCann. Primeiro, é habitual, não só em Portugal, os pais serem à partida suspeitos do desaparecimento dos seus filhos, logo não é infame, por mais que seja confuso ao amor da paternidade, há muitos pais que nunca o deveriam ser; segundo, o “azar” supremo é da inocente criança, mas se nos cingirmos ao “azar” implícito nas palavras de Miguel Sousa Tavares, o “azar” foi de Portugal, em uns ingleses de um elevado nível social terem perdido cá a filha, pois é um casal que começou logo a mover influências antes de dar o alerta do desaparecimento da menina às autoridades portuguesas, e amealhou uma exorbitante quantia em donativos com a qual contornou habilmente a justiça, enquanto outros de baixos rendimentos e/ou menos inteligentes não têm a mesma facilmente. Relembro a Miguel Sousa Tavares que o Reino Unido “ganha-nos” de longe em termos de crianças desaparecidas, pais considerados suspeitos, crimes por resolver e processos arquivados. Relembro também, que não serem portugueses é a sorte dos McCann, pois caso fossem Tugas ainda levavam com a acusação de crime de abandono (artigo 138º do CPP), à conta do qual alguns pais azarados perderam a custódia dos filhos ou já cumpriram pena, aliás, neste âmbito em Inglaterra teria sido retirada a custódia dos gémeos, quer fossem dessa nacionalidade quer fossem emigrantes.
Este caso é aberrante desde o início. Uma inocente criança que desaparece e que não se prevê que seja encontrada com vida. Uns pais que dispensam o serviço gratuito de amas, enquanto fazem jantaradas noite após noite com os amigos, e com um esquema de comunicação extremamente bem montado. Um apartamento que não é selado desde a chegada da GNR até o término da investigação. Um circo mediático, cá e lá. Interferência do governo britânico e falta de verticalidade ao português, PGR e PJ. O afastamento aparatoso do inspector Gonçalo Amaral**. A reviravolta nas análises do laboratório inglês (Forensic Science Service) que processou as amostras recolhidas. Os arguidos e cruciais testemunhas fora de Portugal. A reconstituição da noite do crime que não foi feita… Uma inocente criança que desaparece e que não se prevê que seja encontrada com vida. Este caso é aberrante desde o início.
* Com base no relatório da PJ os McCann foram constituídos arguidos «face à mera possibilidade do seu envolvimento com o eventual cadáver» de Madeleine, após os cães, cedidos pela polícia inglesa, terem farejado odor de cadáver (no apartamento, num canteiro exterior, em roupas de Kate e de Madeleine, e eventualmente no peluche da menina) e vestígios de sangue humano (igualmente no apartamento e no veículo alugado 3 semanas após a sua filha desaparecer) [págs. 37-40]. No que respeita a Murat, este estatuto decidiu-se com base no testemunho duma jornalista britânica «a qual estranhara o especial empenho e curiosidade de Murat neste caso, o que lhe recordara um outro ocorrido no Reino Unido com contornos semelhantes e em que os culpados tinham participado activamente em buscas» [págs. 27-28].
** Avança o Correio da Manhã (final do texto), que o seu livro “A Verdade da Mentira” vai ser distribuído no próximo dia 24 com a edição desse jornal.
Sobre o motivo que leva a este arquivamento ainda não li nem ouvi nada que foque a estapafúrdia contradição do despacho – corrijo, acabei de ouvir na SIC Notícias, às 07:03 enquanto escrevia este post, algo sobre declarações semelhantes de Alípio Ribeiro ao Diário Económico -, isto porque assenta em três pessoas que «eram suspeitos porque eram arguidos, ou arguidos porque eram suspeitos» [cit. Paulo Sargento em “Maddie: caso arquivado”, na SIC Notícias 21/07/2008], sob as quais não se conseguiu provar culpabilidade, e não no desaparecimento propriamente dito da menina, que infelizmente não retornará. Assim sendo, enquanto leiga, considero que o despacho apenas se devia cingir aos constituídos arguidos e às medidas de coacção que lhes foram aplicadas, tanto que o prazo de investigação do desaparecimento ainda não prescreveu (veja-se como exemplo Jorge Sepúlveda desaparecido há quase 17 anos) como bem sabe, ou deveria saber, Pinto Monteiro.
Esta é mais uma gaffe a ser aproveitada pelos McCann, tão bem auxiliados por Clarence Mitchell (assessor de comunicação cedido aos McCann pelo Primeiro-ministro inglês), que ajuda à ridicularização do funcionamento policial e da justiça em Portugal, alegando que se desistiu de procurar Madeleine, enquanto se preparam para nos processar com a ajuda de Rogério Alves, acção que Robert Murat de certo também não descuidará. E digo “nos processar” porque as indemnizações vão ser pagas por todos os portugueses que engrossam os cofres do Estado, e não pelos altos intervenientes nacionais responsáveis pelos excêntricos contornos deste caso.
As alegadas pressões e interferências do governo português e subsequentemente da direcção da PJ na investigação, mesmo que não comprováveis, moralmente são consideradas como obstrução à investigação e à justiça, havendo a crença que se assim não fosse a PJ teria sido mais célere e cometido menos erros, ou não fosse esta a investigação mais dispendiosa que se conhece na justiça portuguesa. Denote-se aqui a subserviência a “terras de sua Majestade” para manter a simpatia de Gordon Brown que, tal qual José Sócrates, já não agrada à maioria dos eleitores.
Miguel Sousa Tavares escreveu no Expresso que «[...] Mais de um ano depois, vai-se levantar a infame suspeição sobre um casal que teve o azar de perder a filha em Portugal e sobre um inglês que teve o azar de ser vizinho do aldeamento e ter levantado suspeitas a uma jornalista […]». Concordo no que respeita a Murat mas não sobre os McCann. Primeiro, é habitual, não só em Portugal, os pais serem à partida suspeitos do desaparecimento dos seus filhos, logo não é infame, por mais que seja confuso ao amor da paternidade, há muitos pais que nunca o deveriam ser; segundo, o “azar” supremo é da inocente criança, mas se nos cingirmos ao “azar” implícito nas palavras de Miguel Sousa Tavares, o “azar” foi de Portugal, em uns ingleses de um elevado nível social terem perdido cá a filha, pois é um casal que começou logo a mover influências antes de dar o alerta do desaparecimento da menina às autoridades portuguesas, e amealhou uma exorbitante quantia em donativos com a qual contornou habilmente a justiça, enquanto outros de baixos rendimentos e/ou menos inteligentes não têm a mesma facilmente. Relembro a Miguel Sousa Tavares que o Reino Unido “ganha-nos” de longe em termos de crianças desaparecidas, pais considerados suspeitos, crimes por resolver e processos arquivados. Relembro também, que não serem portugueses é a sorte dos McCann, pois caso fossem Tugas ainda levavam com a acusação de crime de abandono (artigo 138º do CPP), à conta do qual alguns pais azarados perderam a custódia dos filhos ou já cumpriram pena, aliás, neste âmbito em Inglaterra teria sido retirada a custódia dos gémeos, quer fossem dessa nacionalidade quer fossem emigrantes.
Este caso é aberrante desde o início. Uma inocente criança que desaparece e que não se prevê que seja encontrada com vida. Uns pais que dispensam o serviço gratuito de amas, enquanto fazem jantaradas noite após noite com os amigos, e com um esquema de comunicação extremamente bem montado. Um apartamento que não é selado desde a chegada da GNR até o término da investigação. Um circo mediático, cá e lá. Interferência do governo britânico e falta de verticalidade ao português, PGR e PJ. O afastamento aparatoso do inspector Gonçalo Amaral**. A reviravolta nas análises do laboratório inglês (Forensic Science Service) que processou as amostras recolhidas. Os arguidos e cruciais testemunhas fora de Portugal. A reconstituição da noite do crime que não foi feita… Uma inocente criança que desaparece e que não se prevê que seja encontrada com vida. Este caso é aberrante desde o início.
* Com base no relatório da PJ os McCann foram constituídos arguidos «face à mera possibilidade do seu envolvimento com o eventual cadáver» de Madeleine, após os cães, cedidos pela polícia inglesa, terem farejado odor de cadáver (no apartamento, num canteiro exterior, em roupas de Kate e de Madeleine, e eventualmente no peluche da menina) e vestígios de sangue humano (igualmente no apartamento e no veículo alugado 3 semanas após a sua filha desaparecer) [págs. 37-40]. No que respeita a Murat, este estatuto decidiu-se com base no testemunho duma jornalista britânica «a qual estranhara o especial empenho e curiosidade de Murat neste caso, o que lhe recordara um outro ocorrido no Reino Unido com contornos semelhantes e em que os culpados tinham participado activamente em buscas» [págs. 27-28].
** Avança o Correio da Manhã (final do texto), que o seu livro “A Verdade da Mentira” vai ser distribuído no próximo dia 24 com a edição desse jornal.
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Actualização: post emendado às 10:37 de 22/07/2008
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