Exames nacionais...
...
SIC: Pergunto-lhe, Sra Ministra, se o Ministério anda a fazer exames mais fáceis ou se os alunos andam a estudar muito?
Maria de Lurdes Rodrigues (MLR): Sabe, eu não me consigo pronunciar dessa forma tão superficial. Como também considero superficial dizer que o exame de hoje ou de ontem foi a sério e que as provas de aferição não são a sério. Sabe que é muito desmobilizador para os professores e para as escolas dizer que aquilo que é um trabalho em que eles investem, só porque ele tem resultados positivos não é a sério.
SIC: Tenho muita pena mas, neste contexto, tenho que me socorrer de autoridades como o Professor Nuno Crato que diz que há exames de preparação que são ridiculamente simples - e a expressão é dele -; tenho que me socorrer da Associação Nacional de Pais que vai ao encontro também desta expressão; tenho que me socorrer de um alerta lançado pelo Professor Paulo Heytor Pinto, da Associação Nacional de Professores de Português que diz que os professores só estão a ensinar para os exames...
MLR: Bom! Cada um socorre-se do que quer, cada um faz as suas escolhas...
SIC: Estou a socorrer-me de fontes credíveis!
MLR: Com certeza, são as fontes credíveis para si. Para mim, fonte credível é o Ministério da Educação e o instituto que promove a realização dos exames e que o faz com todo o rigor e com todas as exigências. É muito fácil...
SIC: Não são fáceis demais...?
MLR: Eu não me consigo pronunciar, sabe? O Sr consegue pronunciar-se, essas pessoas também. Eu não consigo pronunciar-me. Sabe porquê?
SIC: Eu não me lembro de os meus exames serem fáceis demais...
MLR: Sabe porquê?
SIC: ... E acredito que quem a está a ouvir e a ver em casa também não tenha essa ideia.
MLR: Não... Eu gostava que me desse a oportunidade de responder. Já me fez três ou quatro perguntas e não me deu oportunidade de responder a nenhuma. Mas gostava de ter a oportunidade de responder, com toda a traquilidade, dizer-lhe o seguinte. O nível de complexidade de uma prova não se avalia assim pela opinião, pela sua opinião, a opinião dessas pessoas ou a minha. O nível de complexidade...
SIC: Por muito boas que essas pessoas sejam, no domínio das suas competências...
MLR: Se me permitir falar eu volto à SIC com toda a boa vontade. Mas se o Sr me interromper, não me deixar falar, não é possível esta entrevista.
SIC: Faça o favor.
MLR: Bom! Que é que eu gostava de lhe dizer? Que o nível de complexidade de uma prova tem técnicas para ser avaliada. Não é a sua opinião, a opinião dessas pessoas ou a minha. O que conta, um dos principais indicadores que se usa, usam-se técnicas estatísticas para avaliar o nível de complexidade e uma das medidas mais simples é a curva de distribuição dos resultados. E quando apenas 5% dos alunos conseguem completar a totalidade de uma prova com êxito, isso diz tudo - ou diz alguma coisa - sobre a complexidade de uma prova. Foi o que aconteceu com todas estas que estão a ser feitas. As provas são calibradas e ajustadas ao nível de exigência daquilo que é o programa. Não é o nível de exigência que o Sr tem na cabeça ou que algum desses peritos tem na cabeça. É o nível de exigência do programa e isso é que é feito. Com todo o rigor e com toda a exigência.
SIC: Então a Sra Ministra considera que estes especialistas estão a exigir demais?
MLR: Deixe-me acabar. Se não me deixa acabar, eu não consigo. O que eu considero é que…
SIC: Permita-me lembrar-lhe, Sra Ministra isto não é um monólogo...
MLR: Deixe-me acabar.
SIC: ...E por isso eu pergunto-lhe, Sra Ministra, se na sua opinião estes especialistas estão a exigir demais?
MLR: Deixe-me acabar. O Sr já me fez essa pergunta e ainda não me deixou acabar a minha resposta. Primeiro...
SIC: Porque ainda não me respondeu.
MLR: Primeiro ponto, o nível de complexidade de uma prova tem técnicas, não é uma questão de opinião, é uma questão de validação técnica, com recurso a técnicas estatísticas também. E essas pessoas, com a precipitação com que se pronunciaram, de certeza absoluta que não tiveram o rigor e exigência que pretendem para os outros. Depois...
SIC: Eu diria que o Professor Nuno Crato é um reputadíssimo dominador do assunto.
MLR: Depois, eu gostava de lhe dizer que há uns quantos pessimistas de serviço neste país. Muito pessimista.
SIC: É o caso destas pessoas?
MLR: O que acontece é o país tem que estar sempre mal, e os alunos têm que ser sempre maus. Quando os resultados são por si maus e revelam fragilidades nos conhecimentos e nas competências, aí está a prova que o país está mal.
SIC: Os pais também estão pessimistas, Sra Ministra?
MLR: Quando melhora, como o país não pode melhorar, são as provas que estão erradas. Mas isso faz parte...
SIC: Inclui os pais nesse pessimismo, Sra Ministra?
MLR: Não incluo nada, estou-lhe a responder a si.
SIC: É que eu tenho aqui uma situação da Confederação Nacional das Associações de Pais a dizer assim, o seu Presidente a dizer assim: Está tudo bem com os alunos até chegarem ao primeiro ano da faculdade e ser o descalabro, porque não têm competências nem aprenderam a estudar sozinhos. São os pais que dizem.
MLR: Com certeza. Mas sabe, eu não me pronuncio, eu tenho obrigação de ser exigente. Eu não me pronuncio sobre opiniões. Eu pronuncio-me sobre testes técnicos que são feitos às provas, sobre documentação que é necessário exigir quando se faz uma prova de aferição. O Sr terá oportunidade, se quiser, de convidar o director do GAVE e ele explica-lhe o que é preciso, do ponto de vista técnico, para fazer uma técn... hum... uma prova e para avaliar o nível da sua complexidade. E portanto, isto não é uma questão de opinião. E devíamos ser mais cautelosos e mais respeitadores do trabalho que os professores e as escolas fazem. Porque essas pessoas, não as vi pronunciarem-se sobre: Plano Nacional de Leitura e mais horas de trabalho na área da leitura em todas as escolas; Plano de Acção da Matemática e mais horas de trabalho para a Matemática em todas as escolas; orientações claras sobre o tempo de trabalho tanto na Matemática como na Leitura em todas as escolas; formação contínua para milhares de professores, do 1º e do 2º ciclo, em Português e Matemática. Eu gostava que o Sr e essas suas fontes, se pronunciassem sobre factos concretos: sobre as horas de trabalho, que escolas e professores tiveram, neste ano para melhorar...
SIC: Neste caso, Sra Ministra, as pessoas pronunciam-se sobre aquilo que pode ser corrigido.
MLR: Não são fontes fidedignas, são opiniões. Gostava ainda de dizer-lhe uma coisa. O facto de muitos jovens acerca do teste: que se sentem confortáveis, aliviados por terem passado um momento em relação ao qual…
SIC: Não é só isso, eles disseram que é fácil.
MLR: O facto de eles dizerem que é fácil não significa que a prova seja fácil. Como lhe disse, a simplicidade ou a complexidade de uma prova tem técnicas específicas...
FIM
Haja paciência p'ra ler isto... quanto tempo perdido!!!...