Hipocrisia transvestida de moralidade
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AVISO: o STRIP que se segue, pode ser impróprio para pessoas susceptíveis a ofensas em geral, e ressabiadas no particular.
Como se não bastasse processarem autores de blogues porque opinam, ou encerrarem blogues colectivos porque o retratado se queixa em tribunal (dum colaborador em particular) por ofensas, agora a moda é “Flagar” sem mais nem quê os blogues alojados no Blogger, e toma lá com o aviso de conteúdo reprovável à porta.
Eles vão somando. Não é o raio do aviso que me faz deixar de visitar os blogues que levam com o carimbo da censura gratuita, mas ando a remoer na hipócrita saga de “assinalar blogue” – como nos explica JPG no Apdeites (AQUI, AQUI e AQUI) a coisa é facílima e o bloguista que se aguente ou que mude de plataforma.
O tal do aviso em certos blogues (aqueles que os especialistas falam que são terroristas e tal) até compreendo se incitarem a actos que violam os direitos humanos, mas aí outras medidas se devem aplicar; noutros (género de sátira, roçando o humor negro) já faço um valente esforço para entender, mas pronto, nem toda a gente alcança certos humores; mas há aqueles (lúdicos, criticos ou opinativos) que não assimilo mesmo, nem que a vaca tussa.
Sinceramente, esta cena à Pilatos do Blogger deixar os blogues (mesmo que num serviço gratuito) à mercê de qualquer ressabiado armado em vigilante, anda-me a moer o juízo e já penso que o CC&Cª devia mudar de “morada". Quer-se dizer, caso o bloguista não ajuíze o seu blogue como tendo conteúdos para maiores de idade ou que são da cor da maioria vigente, lá aparece um qualquer guerrilheiro da moral e dos bons costumes e espeta-lhe com o selo da devassa, mesmo que ela não exista. Basta que uns quantos considerem que o CC&Cª tem «conteúdos passíveis de objecções» e o Blogger restringe, apaga, zás trás. Mas que porra vem a ser isto?
E perguntam vocês: e o vídeo lá de cima vem a que propósito? Se aqui reproduzo esse trabalho artístico, que tenta transmitir a noção de que as “aparências enganam” mas mostra mais do que o pudor vitoriano permite, tem tudo a ver. Se nestes parágrafos já escrevi algumas pretensas ofensas como “strip”, "roçando", “vaca”, “pincel”, “espeta-lhe”, "devassa", "zás trás", “porra” e outras que me escapam, vem mesmo a jeito. Qualquer um de nós ao publicar seja lá o que for, sujeita-se a que um outro alguém, mais que não seja pelas frustrações que lhe toldam o entendimento, pela ressabiada vingança, pelo desejo de silenciar vozes discordantes, entre sei lá mais o quê do porque lhe apetece, nos castre o blogue.
A esses hipócritas, sempre prontos a censurar o alheio mas que tantas vezes ocultam a própria perversidade, num relâmpago insano, apetece-me gritar:
Que se bana a obra de Carlos Drummond de Andrade porque escreveu “A Puta”; que se destruam todos os Kama Sutra porque tem ilustrações de sexo; que se detonem todas as estátuas da fertilidade porque mostram seios desnudados, e a Capela Sistina porque Michelangelo lá pintou o pénis de Adão; queimem-se os quadros de Picasso, porque desenhou mulheres menstruadas, masturbações e penetrações; encarcerem os livros do Eça, porque escreveu sobre um padre que engravida a paroquiana, e já agora os do José Rodrigues dos Santos também, ou escapou-vos no Codex o «chupar-lhe o mamilo saliente»?
Pronto, a trovoada vai passando, mas isto da censura deixa-me chateada. Agora vou saltar para o próximo post, que hoje o CC&Cª está de parabéns.