Francisco Sá Carneiro... Saudade...
Postado por
Maria Sá Carneiro
em quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
...
“ – Maria, sabe onde eu estava naquele dia, 4 de Dezembro?”
“ – Maria, lembro-me como se fosse hoje, sofri tanto, nesse dia eu...”
“ – Maria, lembro-me da cara dos meus Pais, sofreram tanto, aquelas imagens queimadas… Que horror, Maria!”
Gente.
Ouvi isso milhões de vezes!!...
Apenas gostaria de prestar uma homenagem ao meu Tio Chico. A esse Homem maravilhoso, que tanto nos amou, que tanto nos deu em crianças. O seu sorriso mágico, o seu olhar! Que olhar!! Entrava dentro de mim...
Nunca ninguém me olhou assim, daquele jeito só dele. Lembro-me de ir para o liceu, no eléctrico, a treinar o olhar. Era a única pessoa que eu não conseguia manter o olhar.
Então treinava no eléctrico - fixava uma pessoa até ela desviar os olhos. Mas não se animem... nunca o consegui com o meu Tio!
A melhor recordação que tenho da minha infância é das férias na quinta em Barcelos. O Tio arranjava para nós n actividades: as idas ao rio, os passeios de barco, a pesca que nunca dava nada, os jogos de futebol, as medalhas que o Tio comprava no Porto, para ser tudo mais real!
Éramos sete: os Primos, eu e a minha Irmã. A paciência que a Tia tinha! Éramos muitos. Tudo organizado - cada um tinha um número, uma cor, uma toalha de banho, uma argola do guardanapo com a sua cor - eu era o sete! A caçoula.
Ainda me vêm as lágrimas aos olhos, de pensar como fui feliz, com eles.
Tinha seis anos a primeira vez que fiz a minha mala branca, com uma pega dourada. Cheguei à sala, a arrastar a minha maleta, e participei que queria ir viver com os Tios. Senti-me uma princesa que ia viver para o reino da felicidade... fiquei de castigo!!!
Nos Natais, o Tio era o motor do riso (os presentes dele eram os maiores!); nas Páscoas, os ovos escondidos pela quinta.... Nos Verões, todos sentados na borda da piscina - à espera do minuto certo, duas horas depois da refeição - para poder entrar na água. Que pachorra tinham!
Depois veio a politica... Os comícios, os “banhos de multidão”, as bandeiras, colar cartazes, vender propaganda no colégio.
O Tio foi-se afastando... Aparecendo menos... A separação... A Snu.
Ia conhece-la naquele dia 4, que alegria teria tido o Tio.
Uma tempestade, um mundo virado ao contrário... Noticias nos jornais, confusões, ninguém se entendia, nos entendia ou explicava nada! Um abismo... lá se foi Deus, a família, o colégio, passamos a viver na confusão, na contra-informação....
Mas o Tio aparecia, com o seu sorriso, tentava explicar o inexplicável, mas tentava.
E eu lá ia às escondidas dos Pais, fazer o norte.
Nunca tinha aulas quando o Tio vinha ao Porto. Dava-me a mão na rua, mão entrelaçada na mão, ensinou-me a amar, a acreditar.
Não sei, nem consigo, contar mais... SEI que, naquele dia, parte de mim sufocou, perdeu-se, morreu...
“ – Maria, lembro-me como se fosse hoje, sofri tanto, nesse dia eu...”
“ – Maria, lembro-me da cara dos meus Pais, sofreram tanto, aquelas imagens queimadas… Que horror, Maria!”
Gente.
Ouvi isso milhões de vezes!!...
Apenas gostaria de prestar uma homenagem ao meu Tio Chico. A esse Homem maravilhoso, que tanto nos amou, que tanto nos deu em crianças. O seu sorriso mágico, o seu olhar! Que olhar!! Entrava dentro de mim...
Nunca ninguém me olhou assim, daquele jeito só dele. Lembro-me de ir para o liceu, no eléctrico, a treinar o olhar. Era a única pessoa que eu não conseguia manter o olhar.
Então treinava no eléctrico - fixava uma pessoa até ela desviar os olhos. Mas não se animem... nunca o consegui com o meu Tio!
A melhor recordação que tenho da minha infância é das férias na quinta em Barcelos. O Tio arranjava para nós n actividades: as idas ao rio, os passeios de barco, a pesca que nunca dava nada, os jogos de futebol, as medalhas que o Tio comprava no Porto, para ser tudo mais real!
Éramos sete: os Primos, eu e a minha Irmã. A paciência que a Tia tinha! Éramos muitos. Tudo organizado - cada um tinha um número, uma cor, uma toalha de banho, uma argola do guardanapo com a sua cor - eu era o sete! A caçoula.
Ainda me vêm as lágrimas aos olhos, de pensar como fui feliz, com eles.
Tinha seis anos a primeira vez que fiz a minha mala branca, com uma pega dourada. Cheguei à sala, a arrastar a minha maleta, e participei que queria ir viver com os Tios. Senti-me uma princesa que ia viver para o reino da felicidade... fiquei de castigo!!!
Nos Natais, o Tio era o motor do riso (os presentes dele eram os maiores!); nas Páscoas, os ovos escondidos pela quinta.... Nos Verões, todos sentados na borda da piscina - à espera do minuto certo, duas horas depois da refeição - para poder entrar na água. Que pachorra tinham!
Depois veio a politica... Os comícios, os “banhos de multidão”, as bandeiras, colar cartazes, vender propaganda no colégio.
O Tio foi-se afastando... Aparecendo menos... A separação... A Snu.
Ia conhece-la naquele dia 4, que alegria teria tido o Tio.
Uma tempestade, um mundo virado ao contrário... Noticias nos jornais, confusões, ninguém se entendia, nos entendia ou explicava nada! Um abismo... lá se foi Deus, a família, o colégio, passamos a viver na confusão, na contra-informação....
Mas o Tio aparecia, com o seu sorriso, tentava explicar o inexplicável, mas tentava.
E eu lá ia às escondidas dos Pais, fazer o norte.
Nunca tinha aulas quando o Tio vinha ao Porto. Dava-me a mão na rua, mão entrelaçada na mão, ensinou-me a amar, a acreditar.
Não sei, nem consigo, contar mais... SEI que, naquele dia, parte de mim sufocou, perdeu-se, morreu...
DIA 4! Talvez, agora, imaginem onde fiquei eu naquele dia: perdi a esperança...
46 Anos tinha o meu Tio...... 5 filhos...... Muito para dar a este País....... E a nós, Família!
Pergunto-me sempre o que fez este País para descobrir a Verdade???
46 Anos tinha o meu Tio...... 5 filhos...... Muito para dar a este País....... E a nós, Família!
Pergunto-me sempre o que fez este País para descobrir a Verdade???
Maria Sá Carneiro
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