Renascer de uma insónia...
Postado por
Anónimo
em segunda-feira, 7 de abril de 2008
...
Esta madrugada acordei às quatro e meia da manhã, sem conseguir retomar o sono!
Levantei-me e saí para a varanda comprida do andar da casa onde moro, nos arredores da minha cidade - Braga.
Ainda estava escuro. O silêncio só era quebrado pelo zumbido dos insectos nocturnos, o latido de algum cão da vizinhança, o cantar de um galo madrugador. Acima da minha cabeça bilhões de estrelas tremeluziam no céu. emitindo a sua ténue luz. Enquanto as admirava, senti a aragem macia que tocava o meu rosto, enchia os meus pulmões com o oxigênio dos campos em redor.
Há muito tempo que não sentia esse prazer e essa maravilha, dentro das minhas narinas habituadas à poluição a que nos sujeitamos todos os dias e a toda a hora. Comecei sentir-me pequenina ante a vastidão daquele céu iluminado e sem limites... Uma privilegiada! Se calhar, não a única naquele momento.
Procurei sentar-me comodamente, numa cadeira que mantenho na varanda, quer de inverno, quer de verão, para que pudesse apreciar aquela oferta da natureza, assistir àquela cena, sentindo-me convidada pelo próprio destino, bendizendo aquela inesperada insónia...
Naquela minha solitária contemplação, fui de súbito maravilhada pela aparição, a oriente, de uma enorme massa rubra, que aos poucos começou a clarear o horizonte com a sua cor de chumbo, empurrando para o lado as sombras da noite. Depois, aquela imagem, como que de uma nódoa de sangue se tratásse, mais esférica, mais brilhante, transformou-se num dourado sol nascente, que salpicou algumas nuvens, com todos os matizes dos seus raios de luz.
Enquanto isso acontecia, ouvia a orquestra do trinado dos pássaros cantando, que alegravam aquele espectáculo, com a sua estridente música.
Aquela transição mágica da noite para o dia, das trevas para a luz, foi para mim algo indescritível! Penso que nem as mais hábeis palavras, nem as mais aveludadas tintas podem retratá-la!
O despertar desta aurora marcou o resto do meu dia e felicitei-me pelo acaso de ter assistido àquele amanhecer inesquecível que valeu por todas as manhãs perdidas na minha vida... habitualmente porque acordo tarde, já que o meu sono teima sempre em se prolongar para além do razoável! O cansaço, habitualmente sempre mais forte, raramente me permite usufruir de um espectáculo tão esplendoroso como o romper da aurora.
Senti-me a receber os seus fluidos vaporosos, com novo alento para enfrentar o tumulto de outras vidas e paixões humanas, com que me deparo tantas vezes no meu dia-a-dia!
Há muitos anos que tal não me acontecia... bendita insónia!!!
Perco este milagre todas as manhãs e ele repete-se gratuitamente... para todos nós... passando-nos, muitas vezes, desapercebido... quando basta, simplesmente, que ergamos os olhos para vê-lo!... Ou talvez uma insónia!!
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