ESPERANÇA
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Talvez a minha vida, sem ti, seja isso mesmo, uma vida sem sonhos nem crenças.
Talvez a minha vida seja cinzenta, da cor do casaco de malha que eu visto quando tenho frio, mesmo quando faz sol.
Tu conheces o gelo que me percorre a espinha, aquele que me estremece e abala a alma, virando-a do avesso, fazendo de mim um furacão e transformando os meus dias num tsunami, quando menos espero, acordando repentinamente à bruta, mudando-me consoante o estado do céu e do tempo... sou uma marca temporal.
Eu sou assim, fruto da minha instabilidade, de vez em quando digo que o céu é verde e tu, às vezes, aceitas a minha loucura e acabas concordando com as cores que eu vejo.
A minha vida sem ti não faz sentido, é azeda e muito amarga, porque lhe faltas tu, falta-lhe a dimensão da tua doçura, o equilíbrio do teus olhos, a paz que me consegues transmitir quando o meu universo das coisas tortas desaba, quando as pernas perdem as forças e se cansam de vaguear por caminhos tortuosos repletos de armadilhas, com trilhos escondidos e sem nome.
É assim a minha vida sem ti...
E é disso que tu tens mais medo, do que partilho e do que escondo, da pergunta e da resposta, do meu lado inteiro e sóbrio ou do meu lado mais vácuo e sombrio. Nem eu sei por vezes do que sou feita, se sou a teia que se desfaz na trama ou se não passo de uma agulha, escondida no palheiro. Não tenho nome quando acordo gelada, e fico esquecida do Mundo, e nem sequer penso em ti como parte deste vazio que me assombra a vida.
Sem ti é isto mesmo, uma profunda confusão... ora me sinto viva, ora murcha...
Lamento a agonia e o desespero, mas são elas que me devolvem à escrita, dissipando-se entre as linhas que vou escrevendo.
Eu sou isto... sou mais que uns cabelos e olhos castanhos, mais do que uma cor branca, mais do que meros reflexos dos meus momentos de fúria e alegria, essências e cheiros, amor e desamor... Sou apenas partículas do que me corre no sangue, vulgares sinais de pontuação que me descodificam os sentimentos, revelando o meu lado mais perverso, que só a mim pertence, e o quanto me sinto perdida quando a minha vida está sem ti...
Talvez eu seja, um dia, maior do que as estrelas, vendo o mundo com a perspectiva que tu vês através dos teus olhos, ou quando me mostras o universo das coisas certas.